Análise da Secretaria Estadual da Saúde aponta perfil dos óbitos por dengue no RS em 2024
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) publicou no dia 18 de abril de 2024, uma nota informativa trazendo o perfil dos óbitos por dengue no Rio Grande do Sul. Os dados, compilados pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), apontam recomendações à população e aos profissionais de saúde sobre uma maior atenção aos sintomas e ao tratamento previsto nos protocolos.
Foram utilizadas na análise as notificações dos primeiros 73 óbitos pela doença no ano, número esse que já foi atualizado na quarta-feira (17/04) para 78. “A avaliação desses 73 óbitos, que já é inédito, o maior número de óbitos no mesmo ano que nós tivemos, já ultrapassando 2022, que foram 66, mostrou a questão da importância da idade: os nossos óbitos acontecem mais na população acima de 60 anos, como um fator biológico importante”, apontou o diretor adjunto do Cevs, Marcelo Vallandro. Entre as mortes descritas na avaliação, 73% delas ocorreram entre pessoas com 60 anos ou mais.
Quanto aos sintomas mais frequentes entre os óbitos estão a febre (62%), dor muscular (58%), dor de cabeça (43%) e náuseas (43%). As doenças preexistentes mais relatadas foram hipertensão (56%), diabetes (18%), cardiopatia (18%) e doença pulmonar obstrutiva crônica (16%). Não houve relato de comorbidade em 16% dos casos de morte. “A busca tardia por atendimento e o manejo não totalmente adequado em relação aos protocolos feitos nas unidades de saúde também são fatores relevantes para esses desfechos”, relata o Vallandro.
Sinais de alarme
A nota informativa também descreve quais são os principais sinais de alerta da doença, ou seja, aqueles quadros que indicam que a doença está ficando mais grave, estando a pessoa já internada ou não.
Entre os óbitos, os mais comuns foram a plaquetopenia (diminuição do número de plaquetas no sangue) e a hipotensão postural e ou lipotimia (sensação de tontura, decaimento, desmaio), presentes em 53% e 47%. Também foram apontados no relato dor abdominal intensa (34%) e letargia ou irritabilidade (32%).
Para os casos que evoluíram para dengue grave, os sinais e sintomas mais frequentes foram pulso débil ou indetectável (49%), extremidades frias (48%), taquicardia (42%) e hipotensão arterial (42%). A dengue grave é caracterizada pelos quadros que apresentam choque ou desconforto respiratório em função do extravasamento grave de plasma, sangramento grave, ou comprometimento grave de órgãos como dano hepático importante, do sistema nervoso central (alteração da consciência), do coração (miocardite) e de outros órgãos.
Atendimento
A análise demonstra que os pacientes procuram em média, ao menos, duas vezes por atendimento até a internação ou suspeição de dengue. Esses pacientes demoram em média 2,6 dias após o início dos sintomas para procurar o primeiro atendimento e, após, cerca de 4,4 dias até ocorrer a hospitalização. Os óbitos acontecem em média 8,3 dias após o início dos primeiros sintomas.
Entre as pessoas que vieram a óbito, 50 (dos 73 óbitos) buscaram o primeiro atendimento em hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).
Fatores
Os seguintes fatores foram identificados como causas que podem levar ao óbito por dengue: o não reconhecimento dos sinais de alarme pela população e pelos profissionais de saúde, procura tardia do paciente pelo serviço de saúde, manejo clínico inadequado, procura por várias vezes aos serviços de saúde, dificuldade de acesso, hidratação inadequada ou insuficiente, ausência da classificação de risco para dengue (conforme fluxograma estabelecido pelo Ministério da Saúde), não realização de hemograma ou em número abaixo do indicado na classificação de risco, resultados de hemogramas em tempo inoportuno para auxiliar no manejo e reclassificação do paciente ou o paciente ser liberado antes da liberação do resultado. “Todos esses fatores não são exclusivos do Rio Grande do Sul, sendo também elencados como fatores possíveis de óbito em todos os estados brasileiros conforme publicado recentemente pelo Ministério da Saúde”, destaca Marcelo Vallandro, citando a Nota Técnica Nº 20.2024/SVSA/MS.
Observa-se, ainda, que a análise dos sinais e sintomas manifestados pelos usuários que tiveram o óbito como desfecho são, em sua maioria, sintomas que em outros agravos não teriam a importância de serem indicativo de risco ou gravidade. “Portanto, os usuários com suspeita de dengue exigem dos profissionais uma sensibilidade maior a fim de que sejam devidamente avaliados, mesmo com sinais e sintomas que, se não fosse a suspeita de dengue, não necessariamente seriam indicativos de intervenção precoce”, destaca o texto da nota do Cevs.
O documento acrescenta ainda que, embora a dengue esteja presente no RS desde 2007, ela é pouco conhecida por muitos profissionais de saúde em relação ao manejo clínico de casos graves. “Ainda que o Estado sempre tenha tido casos, esses sempre foram números pouco significativos e eram raros os casos graves. A dengue tem um curso muito agudo e o agravamento, quando ocorre, acontece muito rapidamente. O conhecimento dos profissionais quanto ao diagnóstico e ao manejo clínico oportuno impactam na evolução dos casos”, frisa a análise da SES.
Diante desses dados, orienta-se que os gestores municipais organizem seus fluxos dentro dos serviços de saúde, capacitem todos seus profissionais da área assistencial, disponibilizem exames indiretos (como hemograma) em tempo oportuno e quantidade adequada nos serviços de saúde, e que comuniquem a sua população, de forma clara e repetidamente, sobre o risco, sintomas, sinais de alarme, hidratação vigorosa e demais orientações sobre a dengue.
Fonte: Vida no Campo