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Quando o ciúme deixa de ser saudável e torna-se patológico na relação

Ciúmes, um sentimento difícil, muitas vezes, de delicado controle. Alguns até dizem que ele é o “Tempero da relação”. / Imagem: Divulgação
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Ciúmes, um sentimento difícil, muitas vezes, de delicado controle. Alguns até dizem que ele é o “Tempero da relação”. / Imagem: Divulgação
Publicado em
12/06/2023

Ciúmes, um sentimento difícil, muitas vezes, de delicado controle. Alguns até dizem que ele é o “Tempero da relação”. Mas será que é mesmo?! Se faz sofrer, se dói, como pode ser um tempero? 

Bem verdade que, não se pode negar que ele é um tipo de sentimento comum e que está muito ligado ao medo de perder. Medo de perder o (a) parceiro (a) ou mesmo, um medo de perder o controle que se acredita deter sobre o outro. Motivo pelo qual, consideramos que o ciúme está muito mais relacionado a este “controle” do que ao amor propriamente dito.

Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, o ciúme natural ou que não causa prejuízo, surge por alguma situação específica em que a pessoa se sente ameaçada, com medo de perder a pessoa amada, em caso de iminência de risco. 

Para a especialista, esse ciúme é direcionado no sentido de proteger a relação. Ele surge e não permanece de forma a perturbar a vida psíquica do indivíduo. Por outro lado, no ciúme patológico, o indivíduo constrói um padrão de comportamento controlador e inseguro que se retroalimenta num dilema interior! 

“O ciumento desenvolve uma “síndrome de detetive”, quando a pessoa sente a necessidade de ficar monitorando e controlando totalmente os passos e sentimentos do outro em busca da comprovação de uma infidelidade. Nesse caso, existe o sofrimento, tanto para quem sente ciúmes, quanto para quem é o alvo do sentimento. É um ciúme causado por situações ou ideias irreais, fantasiosas ou até mesmo delirantes”, explica.

Para Andrea, as explicações psicológicas para o ciúme, demonstram características em que se detecta que o ciumento, com o passar do tempo, torna-se opressor e possessivo e isso pode ser originário de um possível desamparo na infância. Ou por rejeição ou por vivências agressivas ao longo da vida que geram muito medo. 

E por temer o abandono mais uma vez, o ciumento distorce a realidade e se comporta ou se sente como se fosse o verdadeiro "dono" da pessoa e da relação. O ciumento também pode desenvolver comportamentos paranoicos, com ideias de perseguição permanentes, obsessivas e que podem comprometer todo o seu equilíbrio emocional. Levando-o a sentir ciúmes até mesmo do passado e das relações antigas vividas pelo outro.

“Um tipo de comportamento intimamente ligado à baixa autoestima, ao medo da perda, ao complexo de inferioridade, a insegurança, que pode evidenciar até mesmo outros sintomas de transtornos psíquicos. Esse ciúme que causa dor e desespero reflete a perda do equilíbrio emocional e a limitação da vida e das relações interpessoais do ciumento”, diz.

 

Como controlar esse sentimento

Andrea lembra que o ciúmes além de trazer um baita sofrimento também é responsável por doenças físicas causadas pelo mental adoecido. Portanto, faz-se necessário a orientação e cuidado tanto do ciumento, quanto de sua vítima, para que não perpetuem os ciclos. O que é muito comum. 

“Se não houver tratamento e cura, o ciumento vai estar sempre em busca de pessoas para se relacionar, onde possa descarregar sua insegurança e seus medos. Enquanto o oprimido (aquele que é a vítima do sentimento) também irá repetir relações em que se sente preso”, explica.

Para mudar tudo isso, a psicanalista enumera algumas mudanças de comportamento que podem ajudar: 

1 – Racionalize os pensamentos criando comportamentos saudáveis, direcionando a atenção para o autocontrole na relação para não adoecer devido ao ciúme. 

2 - Seguindo essa linha de raciocínio, é muito importante identificar o que está causando o ciúme e a consequente sabotagem no relacionamento afetivo e, a partir daí, parar de atuar dessa maneira. 

3 - Preste atenção em quais momentos o ciúme surge. Observe a si mesmo, suas próprias reações e aprenda a lidar com elas. Antevendo seu sentimento, você pode procurar direcionar sua atenção para outras atividades e pensamentos. 

4 -Outro ponto importante na superação do ciúme é a honestidade. Se algo ou um comportamento está te incomodando, converse sobre isso com quem está sendo o seu objeto de ciúme. A comunicação é um excelente aliado no processo de ajuste da relação. Uma conversa aberta e verdadeira pode gerar mudanças de hábitos e, consequentemente, o fim de desconfortos e crises de ciúmes.

5 - É preciso ter consciência de que, sufocar o (a) parceiro (a) pode ser o primeiro passo para uma relação fracassada. Tente utilizar essa oportunidade para entender como sua natureza controladora te impede de saber quem você realmente é. Encontre um ponto de equilíbrio, comunicando a sua verdade e reconhecendo as limitações do outro. Não podemos dominar tudo. 

Para Andrea, o ciúme muitas vezes é a transferência das nossas fraquezas para o outro. Quando se deixa de viver os objetivos para viver em função do outro, ou do que ele está fazendo, com quem conversou, entre tantos movimentos exacerbados que o ciúme impõe você deixa de ter e de proporcionar ao outro, qualidade de vida.

“Portanto, psicanaliticamente falando, temos que: todo excesso reflete uma falta. Partindo deste princípio, tudo que fere, dói e gera insegurança deve ser eliminado. Além disso, é muito importante cuidar de si. Identificar a origem deste sentimento. Propor um diálogo e reflexão consigo e trabalhar o aumento do amor próprio e da autoestima”, finaliza lembrando que caso não seja possível lidar com esse sentimento sozinho é importante procurar a ajuda de um profissional de saúde mental.

“Ao se livrar do ciúme patológico, experimentamos a liberdade de não sentir preso a inseguranças. Isto é imprescindível para que se possa viver relacionamentos saudáveis e equilibrados, em que amor e controle não sejam sinônimos”, afirma.  

Andrea Ladislau é graduada em Letras e Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no WhatsApp o grupo Reflexões Positivas, para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.

 

Fonte: Divulgação

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